sábado, 29 de novembro de 2008

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

De Clarice.

"Que foi que se disseram? Não se sabe. Sabe-se apenas que se comunicaram rapidamente, pois não havia tempo. Sabe-se também que sem falar eles se pediam. Pediam-se, com urgência, com encabulamento, surpreendidos.
No meio de tanta vaga impossibilidade e de tanto sol, ali estava a solução para a criança vermelha. E no meio de tantas ruas a serem trotadas, de tantos cães maiores, de tantos esgotos secos - lá estava uma menina, como se fora carne de sua ruiva carne. Eles se fitavam profundos, entregues, ausentes de Grajaú. Mais um instante e o suspenso sonho se quebraria, cedendo talvez à gravidade com que se pediam.
Mas ambos eram comprometidos.
Ela com sua infância impossível, o centro da inocência que só se abriria quando ela fosse uma mulher. Ele, com sua natureza aprisionada.
A dona esperava impaciente sob o guarda-sol. O basset ruivo afinal despregou-se da menina e saiu sonâmbulo. Ela ficou espantada, com o acontecimento nas mãos, numa mudez que nem pai nem mãe compreendiam. Acompanhou-os com os olhos pretos que mal acreditavam, debruçada sobre a bolsa e os joelhos, até vê-lo dobrar a outra esquina.
Mas ele foi mais forte que ela. Nem uma só vez olhou para trás."



sábado, 22 de novembro de 2008

Agastamento.

Eu não tenho concentração. Isso me irrita. Toda vez que tento iniciar um texto abro 1.315.000, páginas e me disperso por lá. Nem sei o que acontece, quero dar conta de tudo ao mesmo tempo, isso também me irrita.
Sábado sem sol, me irrita.Você me irrita.
Sim.
Sua falta me irrita. E você demais em mim, me irrita.
Seu assunto me irrita e meus assuntos sem você, irritam.
Sua vida, seus medos, sua burrice, me irritam.
Uma série de irritações: Café sem doce, banho frio, excesso de luz e de carinho. Falta de educação, de imaginação e rimas. Sono pela metade e comida sem tempero. O som da sua voz no meu ouvido, e meu corpo que não sabe disfarçar.
Eu me irrito, muito. Por vários motivos e pela falta deles...Me irrito por não disfarçar uma irritação idiota e por criá-la em um espaço pequeno.
Me irrito e pronto!

Espero que Cecília tenha razão.

"A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega.
"

Ela chegou e eu continuo preparando.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Bom dia, hoje eu quero falar das coisas cafonas!

"Qual o grau de miopia necessário pra esse dia acabar, de jeito bom?
Apenas um ao menos, que me impeça de seguir, nesta coleta de acidentes e paixão.
Qual o grau de fantasia necessário pra que invistas neste amor?
Quase ideal seria, se não fosse verdadeiro, dentre poucos o primeiro que conforta ao amor."


* Sonantes